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Prédio do Fórum Desembargador Pedro Nestor


Carnaval de 1917. No centro a alegoria criticando o estado lastimável de conservação do prédio do Fórum.

Sobrado do antigo Fórum e o local onde seria construído o novo: no casarão do sr. Augusto Xavier Vilaça (onde há uma árvore em frente).

O Juiz de Direito da Comarca do Pará, Dr. Pedro Nestor de Salles e Silva, e as autoridades da época, solicitavam constantemente junto ao governo do Estado, as providências para a construção do novo edifício do Fórum. Mas, somente em 1934 as obras de construção tiveram início. Foi necessário um conterrâneo alcançar o mais alto posto político do Estado. Benedito Valadares Ribeiro, em dezembro de 1933, havia sido nomeado Interventor do Estado de Minas Gerais pelo Presidente Getúlio Vargas.

O novo prédio do Fórum foi mandado construir pelo Interventor Benedito Valadares logo no início do governo dele, e tal notícia mereceu a primeira página do semanário local Pará de Minas-Jornal, edição de 14 de janeiro de 1934. Na edição de 22.07.1934 do mesmo jornal, foi divulgado que as pedras empregadas nas obras de construção do prédio do Fórum eram exclusivamente de granito.

O terreno para a construção do novo prédio, pertencente ao sr. Augusto X. Vilaça (Auguso Xavier Vilaça), localizado na Praça Afonso Pena, foi adquirido pelo governo do Estado e a casa de residência do sr. Vilaça que ocupava o terreno foi demolida. Foram divulgadas também as informações que os empreiteiros, srs. Carneiro de Rezende & Cia.(Engenheiros e Construtores. Escritório: Rua Rio de Janeiro, 385. Telefone 2940. Caixa Postal 182. Endereço Telegráfico: “ALVIM RACHE”) iniciariam a construção do novo prédio nos próximos dias, obra prevista para ser concluída em sete meses, notícias veiculadas na página 1 do Pará de Minas-Jornal, edição de 29.04.1934.

O lançamento da pedra fundamental do prédio ocorreu em 10 de junho de 1934, no mesmo dia e horário do lançamento da pedra fundamental do segundo Grupo Escolar [que viria a ser o Grupo Escolar Governador Valadares]. As cerimônias tiveram a presença do Prefeito Francisco Valadares Ribeiro e demais autoridades do município, sendo a benção oficiada pelo Vigário Padre José Pereira Coelho que também representava o Interventor Federal em Minas Gerais, Benedito Valadares Ribeiro. Paraninfaram o ato o professor José Vilhena e Alexandre Impeliziére e as professoras Anita Sales e Rosa Capanema. Discursaram no local da construção do grupo escolar a professora e diretora do grupo Antônia Antonieta Mendonça e, logo após, no local da construção do novo Fórum, procedida a benção, cujo ato foi paraninfado pelo juiz municipal Dr. Oscar Mendes e pela diretora do grupo escolar, professora Antônia Antonieta Mendonça, usou da palavra o advogado Dr. Raimundo Menezes, designado pelo Dr. Pedro Nestor, juiz de direito da comarca (Pará de Minas-Jornal, 17.06.1934).

As notícias sobre a construção do prédio são sempre abordadas pelo Pará de Minas-Jornal e, na edição de 11.11.1934, veiculou na primeira página que as obras de construção do novo Fórum estavam sob a competente direção do construtor Italo, e achavam-se bastante adiantadas: Já se encontram assentadas as cumieiras do prédio e, dentro de poucos dias estará ele todo coberto de telhas. As paredes internas do pavimento inferior estão sendo respaldadas.

Outra informação do adiantamento das obras de construção do prédio, que prima pela solidez e beleza arquitetônica, também foi noticiada no Pará de Minas-Jornal, em 10.02.1935, com o cálculo da conclusão do prédio no prazo de dois meses.

Em 29 de janeiro de 1935, o Interventor do Estado Benedito Valadares, visitou com sua comitiva e demais autoridades do município as obras de construção do novo Fórum e do novo Grupo Escolar (Pará de Minas-Jornal, 03.02.1935).

O novo Fórum substituiu o antigo prédio, um sobrado que era localizado em frente ao novo. A notícia da inauguração do novo prédio na Praça Dr. Afonso Pena, nº 15, pelo Governador Dr. Benedito Valadares, no mesmo dia da inauguração do segundo Grupo Escolar (que viria a ser denominado de Governador Valadares), mereceu destaque na primeira página do Pará de Minas-Jornal, de 09.06.1935.

Na cerimônia de inauguração do novo Fórum, ocorrida às 14 horas do dia 16 de junho de 1935, pelo Governador de MG, Dr. Benedito Valadares, discursou o Juiz da Comarca, Dr. Pedro Nestor de Salles e Silva, o juiz municipal de Divinópolis Dr. Pereira Brasil, e , em nome do governo discursou o Dr. Gabriel Passos secretário do Interior. A seguir, foi inaugurado na Sala de Audiências do Fórum o retrato do Governador Benedito Valadares Ribeiro e usaram da palavra os advogados Dr. Geraldo Correia de Almeida pelo foro local, e Onofre Mendes Júnior pelo foro de Pitangui e, em nome do governador agradeceu o sr. Abílio Machado, presidente da Assembleia Constituinte Estadual. Por fim, o Cônego Domingos Martins procedeu a benção do novo edifício e serviram de padrinhos o Dr. Oscar Mendes Guimarães, juiz municipal e a senhorita Noêmia Leite.

 

O discurso do Juiz de Direito da Comarca de Pará de Minas, Dr. Pedro Nestor de Salles e Silva, que muito batalhou para a construção da nova sede da Comarca, foi um dos publicados no jornal Minas Gerais de 18 de junho de 1935, e o reproduzimos a seguir com a grafia atualizada, após a introdução que consta no jornal citado. Leia abaixo.

Ocupando a presidência da memorável sessão inaugural do magnífico edifício, o Governador Benedito Valadares, ladeado dos srs. dr. Abílio Machado, Presidente da Assembleia Constituinte, dr. Gabriel Passos, secretário do Interior, deu a palavra ao dr. Pedro Nestor, juiz de Direito da Comarca de Pará de Minas, que pronunciou este aplaudido discurso:

Em 1889, quando eu cursava o primeiro ano acadêmico, na Faculdade de Direito de Recife, no “Clube Português de Leitura”, a melhor biblioteca de então, naquela cidade, ponto forçado de reunião dos estudantes pobres, porque as suas mesadas não lhes deixavam sobras para a compra de livros, li, não me recordando o autor da obra, essa página:

“Um viajor havia imaginado, tinha traçado certo ideal, delineou e esboçou o seu plano de conquista, e tratou de executá-lo, pondo-se em marcha. Depois de uma jornada de perto de quarenta anos, de uma caminhada toda cheia de ásperas, escabrosas e desiguais lutas, de pavorosos e enormes sacrifícios, o viandante alcançou, atingiu o alvo de suas aspirações, o ponto fixado, encarado: ele, já envelhecido e alquebrado, quis rever o caminho andado, e volta-se para o lado de onde partiu. Ao longe, enquanto alcançava o seu horizonte inicial, enxergou o mar, ora manso, ora de ondas encapeladas, que atravessou ao deixar a sua terra natal; viu as montanhas que escalou, embaraçando-se, confundindo-se com o céu; observou as encruzilhadas onde esteve durante anos terríveis e agoniados, na dúvida, na incerteza, na escolha da que deveria seguir, da que o levava certo e seguro no seu itinerário; admirou as tortuosidades do caminho palmilhado; teve medo, verdadeiro pavor, dos abismos que transpôs; queixava-se dos homens.

Ele tudo esquece; a todos perdoa.

Ajoelhou-se, elevou os olhos para Deus e rendeu graças, por ter chegado, são e salvo, ao ponto colimado.”


Senhores:

Eu sou companheiro desse viandante; como ele, atravessei o Atlântico, deixando, abandonando a minha terra muito amada – o meu querido Rio Grande do Norte; como ele, há trinta e sete (37) anos completos, que imaginei a construção deste prédio, e, durante todo esse tempo, quase meio século, lutei e trabalhei sem interrupção; como ele, sofri todas as decepções, fundas desilusões, verdadeiros logros, em linguagem clara.

Como ele, conheci os homens, vi de quanta baixeza, de quanta perfídia é capaz a humanidade, quando tem o interesse contrariado, não satisfeito seu proveito.

Tudo esqueço. A todos o meu perdão.

Na extrema da minha judicatura, descendo o alto da ribanceira dos 63 anos, aqui cheguei, e onde a vida já está próxima ao ocaso, triste e sombrio do poente, cansado e encanecido, chego ao término, ao fim da viagem. A luta foi grande e extenuante, mas também foi grande, bela e radiante, a vitória.

Acompanho o viajor em sua prece.

A minha alma, crente e cheia de fé, ajoelha-se diante de Cristo Crucificado, que nos vê e nos ouve, e cita as palavras de um grande advogado, emérito jurista e abalizado professor: “Preexcelsa Justiça que divinizou Jesus, cuspiu sobre as faces de Jesus, amaldiçoou Nero e estigmatizou Caim”.

Senhores.

Superados todos os obstáculos, afastados todos os empecilhos, desaparecidas as evasivas, eu vejo cair no colo frio da realidade, na frase do poeta, o sonho, que alentei, afaguei, acariciei, com tanto amor, com toda dedicação, por tão longos anos; eu que me fiz eco das justas e contínuas reclamações deste bom e generoso povo, hoje que se inaugura o fórum desta comarca à altura da civilização de Pará de Minas, sinto intensa alegria, viva comoção.

Nesta hora soleníssima, que canto o hino da vitória, que vejo desfraldar a bandeira do triunfo, que tremula, que se agita ao sopro fecundante e vivificante do progresso desta terra, não posso olvidar, não devo esquecer a memória dos incansáveis e leais companheiros, solidários comigo e que tomaram parte nessa jornada, aqueles que não suportaram a aspereza, a escabrosidade da caminhada, os que tombaram em meio do combate, aqueles que desapareceram na voragem do túmulo.

À memória de todos eles o culto da minha sincera saudade, o preito da minha admiração, a homenagem da minha eterna gratidão.

Senhores:

Esta festa é a festa do Direito; é a festa da justiça.

Uma coisa, eu sinto com prazer, com desvanecimento: é a absoluta confiança na ciência do Direito.

Todos procuram abrigar-se à sombra dessa grande árvore. O Direito é a Pátria, a liberdade, o progresso e a civilização; é lei da harmonia universal.

O Direito acompanhando o homem desde o seu berço, desenvolvendo e transformando-se, seguindo assim a lei da evolução, é das ciências cujo conhecimento mais interessa à humanidade.

É assim que o povo que não tem consciência de seus direitos, o conhecimento de seus deveres, age automaticamente; não tem coragem cívica.

Senhores:

Há uma força que domina todas as forças e que produz a ordem e o progresso: é o Direito.

Fora do Direito, diz um escritor italiano, não é possível a vida humana, porque fora do Direito só pode reinar a força bruta, o arbítrio, nunca a justiça, a ordem, a liberdade.

Lutar pelo direito é lutar para que sejam reguladas pelas leis jurídicas as mais importantes relações humanas, é lutar pela mais feliz conservação de nós próprios, é lutar pelo legítimo e necessário desenvolvimento das nossas forças, é lutar pela existência, pela vida, porque o direito é a vida.

A luta pelo direito é perene.

Ouvi, nos tempos acadêmicos, essa lição: o direito tem por pátria a humanidade, tem por habitação o espaço, é imortal como os séculos, reside em si, vive no tempo e tem por título da naturalização – a justiça.

Reproduzo aqui o seguinte trecho de Paul Bourget: no meio dos escombros miseráveis uma árvore irrompe cuja vegetação luxuriante se redobra de vitalidade nessa paisagem da morte.

Essa árvore, de frondação copada e sempre rejuvenescida, é a ciência. Somente ela não mentiu aos seus decretos. Que digo eu? Ela ultrapassou as esperanças mais ousadas, Laurent escreve: É preciso negar Deus para negar que haja um direito gravado em nossas consciências por aqueles que vivem em nós e pelo qual nós vivemos. Há um direito eterno, expressão da justiça absoluta.

Faço minhas as palavras de um dos mais ilustrados mestres que foi o luminosíssimo Tobias Barreto: Vós conheceis a revolução operada na Alemanha e na Itália em prol de uma nova intuição do direito.

Aos vossos ouvidos devemos a tuba guerreira de um Lombroso a regimentar adeptos e formar sectários em todo mundo civilizado; enquanto a Alemanha, ainda chorando a morte do grande Ihering agita-se denodadamente pela regeneração do Direito.

Pedro Lessa, uma das individualidades de eleição, em que se reúnem o esplandecer, com refulgência igual às qualidades que fazem a força, a beleza e a dignidade humanas, no dizer de Alcântara Machado, no discurso proferido na Faculdade de Direito de S. Paulo, na cerimônia da colação de grau aos bacharelandos de 1896, citando o eminente jurisconsulto belga Edmund Picard, escreveu: Em uma tarde de maio, entre Vicargat e a Grand-Espinette, na estrada que de Bruxellas vai à planície inolvidável de Waterloo, encontram-se dois caminhantes, que por momento quedam embevecidos na contemplação de singular e esplêndido cenário.

No extremo da floresta, quase aos pés dos dois caminheiros, troncos de árvores anosas, derruídos no chão, afiguram-se restos de majestosas colunas, com os capiteis despedaçados; além, entremeados de risonhas habitações campesinas, largos tratos de macieiras em flor; depois, uma sucessão ininterrupta de morros, levemente ondulados, a que as refrações da luz emprestam o maravilhoso aspecto de feéricos jardins intermináveis.

Mudos, imóveis, fitando o mesmo horizonte, os dois viajores pareciam preocupados pelos mesmos pensamentos, presos das mesmas emoções.

Lentamente, envolvendo em um gesto amplo todo o vasto cenário, interroga uma das personagens: ― Que divisas?

E o interlocutor a responder: ― Nada mais do que linhas e cores e o pitoresco e a harmonia que resultam do soberbo conjunto. E tu? ― Eu só vejo contratos e direitos.

Tu tens o olhar de pintor, e eu o do jurista; não pertenço ao número das naturezas privilegiadas, em cuja mente o belo e o justo se consorciam em sedutora e fecunda harmonia; toda esta soberba paisagem me oferece o atraente objeto para o estudo de inumeráveis relações jurídicas; de cada um dos seus ângulos, os direitos surgem aos meus olhos como revoadas de pássaros; só vejo a realidade viva e constante do direito, vastíssima teia de fios materialmente invisíveis, tudo penetrando, insinuando-se por toda a parte, adaptando-se a todos os elementos que compõem o extraordinário painel que contemplas inebriado.

Senhores:

Prestemos o nosso culto à grandeza do Direito, à majestade da lei e à pureza da justiça.

Contra o direito, fora da lei e sem justiça, não há governo forte, porque só é forte e livre o governo que vive sob o domínio do Direito; não há autoridade prestigiada e legítima, porque a autoridade prestigiada e legítima é aquela que se acautela na lei; não há ordem, não há civilização, porque a ordem e a civilização são filhas da Justiça.

É com o Direito, com a Justiça e apoiado na lei, que nós defendemos a nossa fortuna, a nossa liberdade, a nossa honra, a nossa vida.

Eu devo transcrever neste pobre discurso as palavras do insigne mestre e íntegro juiz, que é o ministro Edmundo Lins, presidente da Corte Suprema:

Apesar de todas as crises políticas, a justiça se tem mantido intangível. Ela se tem fixado isenta e inacessível aos arranjos dos partidos, às captações do poder.

A justiça tem pairado entre nós, num ambiente respirável e ai dos povos que não a tem salvaguardada. Ela é a filtradora dos sentimentos gerais e o órgão que decide sobre as liberdades humanas.

Sr. Governador, a V. Exciª, as minhas últimas palavras: A V. Exciª, que escreve hoje a página mais brilhante da história de Pará de Minas, embora não contenha ela curiosidades encantadoras, pedaços d’alma, lances sensacionais, V. Exciª figura central da política do Estado, depositário das tradições liberais de Minas Gerais, dotado de tão marcantes virtudes de inteligência, de probidade e patriotismo, tendo só em mira o desenvolvimento moral e econômico da terra montanhesa, só procurando congregar todos os mineiros na mais estreita solidariedade em derredor de uma situação de alevantados ideais para que Minas Gerais possa assumir no seio da Federação o lugar de preeminência que lhe cabe; cultor distinto do direito, do que dão sobejas provas os cartórios desta comarca; espírito íntegro, reto, vigoroso e fartamente ilustrado, sempre aberto a horizontes mais largos; de notabilíssimas qualidades de coração, a alma manter desta solenidade, os vossos ex-companheiros de lides forenses, por meu intermédio, na qualidade de chefe do poder judiciário da comarca, apresentam os mais sinceros e ardentes agradecimentos pelo acontecimento que ora festejamos.

O vosso trabalho é digno de continuação; ele cresce e avoluma sempre belo no colher dos frutos e na messe abundante de conquistas.

A fé e o civismo devem ser as vossas armas nessa patriótica e santa cruzada.

Deus ampare e guie o Governador de Minas Gerais, e vai nesse pedido todo o nosso amor abrasado por esta terra, boa, tranquila e feliz, que é Pará de Minas, em marcha firme e segura para novos e altos destinos, hoje que lhe desponta a alvorada de sua vida de progresso, ao sol resplandescente do seu primeiro triunfo.

Salve! Benedito Valadares Ribeiro!

 

O contentamento do Dr. Pedro Nestor por vivenciar a inauguração do novo prédio para a sede do Poder Judiciário da Comarca de Pará de Minas, do qual era o maior representante, foi traduzido em sua na fala, relembrando os anos de batalha dele e de tantos outros para alcançar o objetivo, somente possibilitado graças ao entendimento do Governador Benedito Valadares, advogado que havia também exercido suas atividades no antigo Fórum de Pará de Minas. 

                    Imagem: Jornal O Diário, Belo Horizonte, edição de 18.06.1935, pág.3. 

 Merecidamente, em 28 de dezembro de 1960, o Fórum de Pará de Minas foi denominado “Desembargador Pedro Nestor”, por força da Lei Estadual Nº 2.271. A denominação é homenagem ao Juiz de Direito da Comarca de Pará de Minas que aqui chegou em 1898 e permaneceu por quase 40 anos, colaborando também com o desenvolvimento sociocultural e econômico de Pará de Minas.

Pela relevância histórica do prédio do Fórum Desembargador Pedro Nestor, ele foi tombado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Pará de Minas, por força do Decreto Nº 2.768, de 13 de abril de 1998. Em março de 2004, o Fórum teve seu perímetro de tombamento, antes limitado à sua fachada principal, estendido a toda volumetria da edificação.

No dossiê de tombamento do edifício, o engenheiro arquiteto Osvaldo Fonseca Filho assim se pronunciou: As obras de construção, executadas pela construtora Carneiro de Rezende & Cia. Engenheiros, dispõem de modernas e generosas instalações, que decorrem das linhas geométricas depuradas do Art déco, estilo arquitetônico que atingiu seu apogeu entre os anos de 1920 e 40, também conhecido como “estilo pó de pedra”, que além da geometrização das formas, se apresenta cromaticamente em tom pastel, na paleta dos acinzentados. A simplificação dos elementos formais, reduz à sua essência o desenho daquilo que simplesmente pretende ser: retas, curvas e planas, ordenados com rigor purista, definem os volumes que resultam no conjunto da solução arquitetônica, em oposição aos excessos do estilo Art Nouveau precedente. O Art déco, recorrente na resolução do prédio do Fórum em Pará de Minas, concilia a produção industrial e as artes, interagindo as conquistas tecnológicas que adentraram pelo século XX, e o propósito artístico, intrínseco ao fazer arquitetônico.

Na edificação do Fórum, o conteúdo Art Déco se aplica desde a concepção, com Partido Arquitetônico puramente retangular, passando pela economia de formas e volumes, até a pureza geométrica de seus elementos construtivos, detalhados com limpeza em seu traçado. O importante é a busca da harmonia na composição e articulação dos volumes, base da solução arquitetônica aplicada ao edifício.

O prédio do Fórum se desenvolve basicamente em dois pavimentos: térreo e pavimento superior, sendo que o subsolo, nos fundos da edificação, são estabelecidos às dependências da Delegacia de Polícia. Para o observador posicionado defronte ao edifício, são percebidos somente os dois pavimentos, que por decorrência da equivalência de sua altura à largura da edificação, propicia fachada frontal como se fora um quadrado absoluto, em plano vertical. O volume sólido do edifício é interceptado, frontalmente, por escadaria centralizada, lindeira ao passeio público, que cria um nicho de entrada que define o hall de acesso, através da portada principal, acima do qual se projeta um balcão, sacada do saguão do pavimento superior. As reentrâncias obtidas a partir do nicho do hall de entrada e sacada do balcão – de parapeito opaco de superfície lisa, assemelhado a uma platibanda – são emolduradas por “contrafortes” sugeridos pelas paredes laterais que descrevem um setor circular convexo, simetricamente opostos.

As esquadrias, com janelas tipo “francesas” e portas desnudadas de exageros formais, prestam à função de seu uso, no máximo, compondo do ponto de vista formal, a proporção entre cheios e vazados, contrabalançando assim as grandes massas de alvenaria esculpidas apenas por apliques geometrizados, ordenados com severidade, pois o desenho tem que ser absoluto. A composição final é equilibrada, e é o que pretende ser. O telhado é sutilmente camuflado, por meio de platibandas e beirais embutidos, sem que interfiram na pureza formal da volumetria da edificação.

 

O arquiteto Osvaldo Fonseca Filho cita o local onde está integrada a edificação: próxima aos edifícios da Prefeitura Municipal, Delegacia de Polícia e Correios e Telégrafos. E encerra o texto  com a afirmação que a edificação do Fórum Desembargador Pedro Nestor é um testemunho da arquitetura Art déco em Pará de Minas, Minas Gerais.

Durante os anos, o prédio passou por obras de reformas e conservação, como a colocação de laje, trabalho executado por Salvador Gonçalves de Oliveira que a colocou sem retirar o telhado, na época do Juiz de Direito Dr. Eurípedes Correia de Amorim, no final da década de 1950, como nos informou Lúcio Gonçalves Mendes, filho de Salvador Gonçalves. Outra reforma ocorreu com a troca do telhado, obras iniciadas em outubro de 2001 que se estenderam a março de 2003, com aprovação de projetos e acompanhamento de técnicos do Patrimônio e Conselho Municipal. Com essa reforma, o prédio ganhou rampa lateral para acesso de deficientes.

O prédio do Fórum de Pará de Minas é um dos testemunhos da história e da arquitetura de Pará de Minas e está muito bem conservado.

 Fórum de Pará de Minas em 1939.

    Em 1948.

    Em 1948.

 Visão panorâmica do entorno do Fórum em 1948.

 No final da década de 1950.

    Em 1970.

    Em 1983.

    Em 1984.

    Em 1986.

 

Fontes:

- ALMEIDA, Robson Correia de. Pará de Minas. Sia vida e sua gente; Indústrias Gráficas Vera Cruz, B.H., 1983.

- Livro Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Piedade.

- Jornal Cidade do Pará, 18.02.1917.

- Jornal Pará de Minas, Ano I, edição de 24.08.1919, Nº 48, pág.2.

- Pará de Minas-Jornal, Ano I, Nº 28, edição de 14.01.1934, pág.1.

- Pará de Minas-Jornal, Ano I, Nº 40, edição de 29.04.1934, pág.1.

- Pará de Minas-Jornal, Ano I, Nº 46, edição de 17.06.1934, pág.1.

- Pará de Minas-Jornal, Ano I, Nº 51, edição de 22.07.1934, pág.4.

- Pará de Minas-Jornal, Ano II, Nº 64, edição de 11.11.1934, pág.1.

- Pará de Minas-Jornal, Ano II, Nº 73, edição de 03.02.1935, pág.1.

- Pará de Minas-Jornal, Ano II, Nº 74, edição de 10.02.1935, pág.4.

- Pará de Minas-Jornal, Ano II, Nº 84, 09.06.1935, pág.1.

- Jornal Minas Gerais, Órgão Oficial do Estado de Minas Gerais, edição de

18.06.1935, págs. 16 e 17.

- Jornal O Diário, Belo Horizonte, Ano I, Nº 112, edição de 18.06.1935, pag.3

- Lei Estadual Nº 2.271, de 28.12.1960.

- Decreto Municipal Nº 2.768, de 13.04.1998.

- Dossiê de Tombamento do prédio do Fórum Desembargador Pedro Nestor. 1998.

- Depoimento de Lúcio Gonçalves Mendes a Ana Maria Campos, em 23.03.2017.

- Arquivo Fotográfico do Museu Histórico de Pará de Minas.

- Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940.  Edição A00091, Pág. 600. Cidade de Belo Horizonte, disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=313394&;pagfis=113920&url=http://memoria.bn.br/docreader# acesso em 10.11.2020.

 

* Ana Maria Campos é pesquisadora da história de Pará de Minas, gerente do Museu Histórico de Pará de Minas.

 

 

Postado em 17.11.2020.

 





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