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O Prédio da Estação Ferroviária de Pará de Minas


                                                                                                                    Por Ana Maria Campos*

                      Devido a estrada de ferro do Ramal do Pará, inaugurado em 08 de maio de 1912, passar pelo centro de Pará de Minas, o sr. Joaquim Moreira dos Santos em ato generoso de amor à cidade, fez a doação do terreno necessário para a construção do prédio da Estação Ferroviária, pátio de manobras, etc.
                      A Estação foi projetada com 33 metros de frente, com amplos armazéns de cargas e descargas, instalação sanitária, larga plataforma e foi orçada em 32:000$000 (trinta e dois contos de reis). O construtor foi o italiano Amedeo Celso Grassi, sendo todos os trabalhos fiscalizados pelo engenheiro do Ramal, Dr. Elias Reis. Pelo engenheiro chefe da seção de construção da Estrada Oeste, Dr. José Berredo, foi aceito o prédio destinado à Estação desta cidade. Obra sólida, executada com gosto e arte. Na época foi considerada uma das melhores de todo o Oeste de Minas. Contava o prédio com excelentes instalações higiênicas para homens e mulheres, vastos salões e espaçosos armazéns, sendo inaugurado no ano seguinte, 1913.     

Para o prédio da Estação a população comparecia para recepcionar visitantes ilustres e familiares. Era lá que chegava os produtos que a população precisava e era de lá que se exportava os produtos da terra. Era lá que as notícias do Brasil e do mundo chegavam pelas correspondências, jornais e revistas, em época que não havia ainda rádio, televisão e telefone. As pessoas tinham o hábito de ir à Estação para ver o trem de ferro chegar e partir. A Estação foi a porta de entrada para o progresso da cidade.                                                                                   

Em 16 de setembro de 1917, na presença de inúmeras famílias, o Vigário Padre José Pereira Coelho oficiou a entronização do quadro do Sagrado Coração de Jesus na sala de espera da Estação. Além do sacerdote, usaram da palavra o Presidente da Câmara de Vereadores e Agente Executivo Torquato de Almeida e o Agente da Estação Aurino França. A Banda de Música do maestro Emídio de Melo abrilhantou a cerimônia.

A notícia que a Estação do Ramal do Pará era “uma das estações mais rendosas da Estrada de Ferro Oeste de Minas” foi veiculada em 1919, no jornal Pará de Minas, edição de 31 de agosto. A edição do mesmo jornal, datada de 08 de outubro do mesmo ano, informou que foi de 21:177$800 o rendimento do mês de setembro da Estação Ferroviária desta cidade, e ainda que a Coletoria Federal rendeu até setembro daquele ano o valor de 62:890$911 para o Tesouro Federal. Comparando-se o período dos rendimentos, constata-se que, realmente, o Ramal do Pará era bastante lucrativo para a Estrada de Ferro Oeste de Minas.

Ao longo dos anos citamos alguns dos agentes da Estação: Marianno Meirelles, Aurino França, Alcides Castro, Francisco Marques, Antônio Marinho Mendonça, João Lopes Flores, Leozinger Boaventura, Osmar Soares de Faria, Gil Rezende, Francisco Campos, Horácio Victor Filho e Antônio Figueiredo Miranda.

                    Em 1º de abril de 1988 o Ramal do Pará foi desativado pela Rede Ferroviária Federal, sob os protestos da comunidade, por ter sido considerada linha deficitária.
O prédio da Estação transformou-se em 1990 em restaurante e, posteriormente, em comércio de móveis usados, ainda sob os protestos da população. Em junho de 1995 a Prefeitura de Pará de Minas conseguiu junto à RFFSA a cessão total da edificação para a municipalidade e, em 26 de janeiro de 1999 a Prefeitura adquiriu o imóvel da Rede Ferroviária Federal S/A, integrando-o ao seu patrimônio, aquisição autorizada pela Lei Nº 3.600, de 22 de setembro de 1998.
                   A preservação do importante prédio foi possibilitada pelo tombamento efetuado pelo Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Pará de Minas por meio do Decreto Nº 2.768, de 13 de abril de 1998.
                   Extraímos do texto do engenheiro arquiteto Osvaldo Fonseca Filho, membro do Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Pará de Minas, produzido para o processo de tombamento, as informações que se seguem sobre o estilo arquitetônico do prédio: “O prédio da Estação Ferroviária possui elementos arquitetônicos que, assim como a maioria das edificações dessa natureza, mesclam a transição entre o passado colonial e imperial e as novas tecnologias que se inauguram – com o advento da estrutura metálica – novo estilo que consubstanciou o Art Nouveau, num ecletismo onde somam-se o barro, madeira e ferro, materiais que se juntam, num desenho equilibrado, para um resultado harmonioso. A interação entre tais materiais, cada qual desempenhando seu papel, fazem do Eclético um estilo que além da ruptura com os estilos anteriores, busca novas conquistas técnicas, quando uma derivação do telhado que se presta a cobrir os halls de entradas e bilheterias da Estação, desafiam as leis para sua estabilidade até o momento impostas, com sutilidade e leveza, características do novo estilo. O detalhe aplicado ao material do qual se apropria, o ferro fundido em formas sinuosas, copiam da natureza os motivos florais e rendilhados decorativos, introduzindo a Arte Nova, retomando o Rococó e às vezes o estilo Gótico. Tudo acaba por compor com muito bom gosto o edifício sede da Estação Ferroviária de Pará de Minas, símbolo do progresso da cidade.”
                    Em 17 de novembro de 2.000 o prédio transformou-se no “Estação do Pará Cine-Café” em concorrida inauguração, após concluídas as obras de restauração e adequação, abrigando um cinema e um barzinho.
                    No início de 2.019 o prédio da antiga estação ferroviária foi devolvido ao Município, encerrando antecipadamente o contrato de cessão de uso, uma decisão conjunta entre a Prefeitura e os empresários que exploravam o local, garantindo a preservação do imóvel que é tombado como patrimônio cultural de Pará de Minas. A devolução ocorreu na manhã da segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019, tendo a Prefeitura de Pará de Minas, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Comunicação Institucional, retomado a posse do prédio da antiga Estação Ferroviária. O imóvel estava sob cessão de uso, era explorado como local bar, restaurante e sala de projeção de filmes. A retomada, amparada pelo Ministério Público e pelo Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Pará de Minas, ocorreu de forma consensual, antecipando o término do contrato, que ocorreria em 2022.
                    Após a reforma do prédio com nova pintura, troca do piso e readequação do espaço ser efetuada pela Prefeitura de Pará de Minas com o apoio das empresas Lamil Mineradora e Embapel Papelaria, foi inaugurado a Estação Cultural, nova destinação do prédio centenário, na manhã de 29 de novembro de 2019, tendo a Banda de Música Lira Santa Cecília e o Coral Dom Maior, da Escola Municipal de Música Geraldinho do Cavaquinho, se unido para marcar a reabertura do prédio com o novo uso de Estação Cultural. Na ocasião, o presépio denominado Belém Monumental, criado e montado por João Batista Leite, foi aberto à visitação pública, abrindo a programação do novo espaço cultural de Pará de Minas. A Secretária Municipal de Cultura Marluce Souza Pinto Coelho, o Prefeito em exercício Zezé Porfírio, Diva Diniz esposa do Prefeito licenciado Elias Diniz, Sérgio Lage, Presidente do Conselho Administrativo da Lamil, e representante da Embapel Papelaria estiveram presentes, além de inúmeras outras. Outras exposições mostrando a arte e cultura da nossa gente têm sido realizadas no local, movimentando o espaço.

Fontes:
. ALMEIDA, Robson Correia de. Pará de Minas, sua vida e sua gente; Indústrias Gráficas Vera Cuz; Belo Horizonte/MG; págs. 76 e 102.
. SILVA, Mário Luiz. Ligeiro Histórico da Praça da Estação; artigo publicado no jornal Gazeta Pará-minense, edição de 18.03.1988.
. Dossiê de Tombamento do Prédio da Estação Ferroviária de Pará de Minas. 1998.
. Jornal Cidade do Pará, Nº 498, edição de 27.07.1913; artigo: Aceito o prédio da Estação local.
. Jornal Pará de Minas, Ano I, edição de 15.09.1918, Nº 4, pág.2, artigo: Estação do Pará.
. Jornal Pará de Minas, Ano I, edição de 31.08.1919, Nº 49, pág. 2, artigo: E. F. Oeste de Minas.
. Jornal JPM, de 30.10.1991.
. Pará de Minas, Ano I, edição de 08.10.1919, Nº 52, pág.1, artigo: Dinheiro haja-Canalização para o Tesouro Federal.
. Jornal Gazeta Pará-minense, edição de 15.12.1989, artigo: Estação, um caso sem definição.
. Jornal Gazeta Pará-minense, edição de 01.06.1990, artigo; Vem aí a Maria Fumaça.
. Jornal Gazeta Pará-minense, edição de 08.03.1996, artigo; Enfim, ganham os artistas da cidade.
. Decreto Municipal Nº 2.768, de 13.04.1998.
. Lei Municipal Nº 3.600, de 22.09.1998.
. http://parademinas.mg.gov.br/cine-cafe-sera-fechado/ e jornal Diário, edição de 10.01.2019, pág.01.
. jornal Diário, 13.02.2019, Ano 21, Nº 5769, artigo Patrimônio Histórico: Cine Café é devolvido ao município, pág. 03; .
. http://parademinas.mg.gov.br/prefeitura-retoma-predio-do-cine-cafe/ acesso em 12.02.2019;
. http://parademinas.mg.gov.br/cine-cafe-sera-fechado/ acesso em 10.01.2019.
. jornal Diário, edição de 13.02.2019, pág.3, artigo: Patrimônio histórico Cine Café é devolvido ao município
. https://parademinas.mg.gov.br/reforma-da-antiga-estacao-ferroviaria-e-inaugurada/ acesso em 04.12.2019; Jornal Diário, edição de 30.11 a 02.12.2019, Ano 21, Nº 5972, pág.02, artigo Presépio Belém Monumental abre programação de novo espaço cultural de Pará de Minas

* Ana Maria Campos é pesquisadora da história de Pará de Minas, diretora do Museu Municipal.

Inauguração do Ramal do Pará. Multidão e banda de música participam do evento. No fundo, à direita, o arco de papel que foi rompido pela locomotiva durante a inauguração, em 08 de maio de 1912.

Regresso da viagem inaugurativa do Ramal do Pará, em 09 de maio de 1912. Nas janelas do trem há autoridades que foram numeradas e identificadas, como se segue: 1-Dr. José Gonçalves; 2- Dr. Nelson  de Senna; 3-Torquato de Almeida; 4-Dr. José Cândido, representante do jornal O Pharol; 5-Dr. Elias Reis, engenheiro do Ramal; 6- Orozimbo Silva, repórter do jornal Diário, entre outras.

Visão da área dos trilhos e do embarque e desembarque de passageiros e mercadorias na Estação Ferroviária, em 1924.

 

Grupo de pessoas em frente a Estação Ferroviária recebendo Gustavo Capanema – Ministro da Educação e Saúde Pública (de óculos). O 2º à direita de Gustavo Capanema é Francisco Valadares, prefeito de Pará de Minas. De uniforme branco são os alunos do Ginásio São Geraldo. Época: 17.08.1924

 

Grupo de pessoas em frente a Estação Ferroviária recebendo Gustavo Capanema – Ministro da Educação e Saúde Pública (de óculos). O 2º à direita de Gustavo Capanema é Francisco Valadares, prefeito de Pará de Minas. De uniforme branco são os alunos do Ginásio São Geraldo. Época: 17.08.1924

No centro da foto, Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, Presidente do Estado de Minas, recepcionado na Estação Ferroviária, quando de sua visita a Pará de Minas. O Vigário Padre José Pereira Coelho em nome do povo discursa. À esquerda dele, Tenente Júlio Melo Franco, Presidente da Câmara de Vereadores e Agente Executivo. Ladeando Dr. Antônio Carlos está Francisco Campos (Secretário de Estado do Interior, de óculos), Monsenhor Francisco Lopes de Araújo, Padre Inácio Campos, Torquato de Almeida (atrás de Padre Inácio), entre grande número de pessoas. Época: 20.03.1928

Ao fundo, o prédio da Estação Ferroviária, com um trem de ferro estacionado desembargando passageiros, em 1935. Em 1º plano, a Praça Torquato de Almeida com o coreto original, obra de Amedeo Celso Grassi, também autor do traçado do prédio da Estação Ferroviária.

Trem de ferro com passageiros parando na Estação Ferroviária de Pará de Minas, na década de 1940.

Nos trilhos do Ramal do Pará, a locomotiva americana (que ganhou o nome de Pacífico 208), com homens e crianças em pose para a foto. Os homens que estão nos trilhos em frente a locomotiva são, da esquerda p/direita: Antônio Vital de Abreu (Guarda-chave) e Bernardo (Maquinista), entre outro e crianças não identificados. À direita, no fundo, aparece parte do prédio do antigo Grande Hotel, atual Casa da Cultura. Época: 21.06.1943

A esquerda o prédio da Estação Ferroviária, localizada na Praça Wenceslau Braz (atual Torquato de Almeida), em 1950.

 O prédio e os trilhos do Ramal do Pará, localizado na Praça Torquato de Almeida, em 1968. À esquerda, no segundo plano, a construção da nova Rodoviária.

Lateral do prédio da Estação Ferroviária de Pará de Minas, a gare de passageiros e os trilhos, em 1981. Acima do basculante as letras V. F. C. O. iniciais da Viação Férrea Centro-Oeste.

Prédio da Estação Ferroviária, já desativada, em 1993.

 Início das obras de restauração e adequação do prédio da Estação Ferroviária, em 2000.

 

 

 





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