Reproduzimos abaixo o discurso do Dr. Silvino Moreira dos Santos, em 08.09.1968, nas comemorações do centenário de nascimento do Padre José Pereira Coelho. Texto biográfico do virtuoso sacerdote benemérito de Pará de Minas, falecido em 05 de julho de 1940.
Meus Senhores,
No dia 14 de abril de 1868, nasceu em Pará, um menino, filho do casal José Pereira Coelho, professor público, e dona Maria José das Dores de Melo, e que dez dias depois era batizado pelo Revm.º Padre Paulino Alves da Fé, então vigário, com o nome de José, sendo padrinhos José da Costa Guimarães Sobrinho e sua mulher dona Maria Amélia de Melo. Este menino seria mais tarde o grande paraense que foi o Padre José Pereira Coelho, sucessor na paróquia do vigário que o batizou. Misteriosos são os designos de Deus. A sua infância e juventude não foram diferentes das de seus conterrâneos, nascidos em pequena localidade mineira, tranquila, de costumes austeros, de vida bucólica e agrária.
Atravessada a fase dos estudos primários, vai ele para o famoso Colégio do Caraça e depois para o não menos famoso Seminário de Mariana, onde faz o seu curso, recebendo a 1.ª tonsura em 27/02/1890, as ordens menores em 05/04/1891, o subdiaconato em 19/04/1892, o diaconato em 24/04/1892 e o presbiterato em 09/04/1893, das mãos deste vulto lendário de santo e de sábio que foi D. Silvério Gomes Pimenta, arcebispo da vetusta cidade de Mariana, cantando a sua 1.ª missa nesta cidade em 16 de julho de 1893.
Exerceu sua missão sacerdotal em outras paróquias, como em Abadia de Pitangui, hoje Martinho Campos, até que foi nomeado, em 1900, coadjutor do Padre Paulino Alves da Fé e mais tarde vigário da Cidade do Pará [atual Pará de Minas] com o falecimento do Padre Paulino, tomando posse em 1.º de novembro de 1906.
Inicia-se ai a notável e gloriosa caminhada do Revm.º Padre José Pereira Coelho e que o tornou célebre na história de nossa terra. Com ela também se inaugurou novo ciclo na vida do povo paraense. Moço, entusiasta, cheio de vida e de energia, inteligente e culto, alma iluminada pela fé ardente em Deus, patriota, surgiu, nesta oportunidade, o grande líder político e religioso, que dominou a história de Pará de Minas por quase meio século. E quando se fala em líder político, não se refere ao homem público na acepção própria do termo, mas ao cidadão prestante e voltado sempre para os problemas da coletividade a que pertence.
Sempre distinguiu na ação do Padre José Pereira Coelho duas facetas que muitas vezes se confundiam em uma só, isto é, naquela que sempre predominou em seu comportamento – a de sacerdote zeloso, a serviço da Igreja e de Deus. O lado social e político da atividade do Padre Zeca, está na criação do Externato Paraense, ao lado do Padre José Emídio Marinho e de Fernando Otávio, entre outros, e onde lecionou; na fundação da Cia. Industrial Paraense, da Cia. Pará Industrial e da Cia. Melhoramentos Pará de Minas, com Américo Teixeira Guimarães, Desembargador Pedro Nestor, Torquato Alves de Almeida, Dr. Antônio Benedito Valadares, Antônio José de Paiva, João Alves Ferreira e Silva, Júlio José de Melo Sobrinho, Manoel José Simões e Francisco Torquato de Almeida Jr. e das quais foi diretor-presidente enquanto viveu; na fundação do Centro Literário “Pedro Nestor”, junto com o seu ilustre patrono, e tomando parte em várias de suas Diretorias; como Provedor da Santa Casa de Caridade de Pará de Minas, de cuja irmandade foi sempre presidente nato na condição de vigário; e, como o pobre mereceu sempre o seu cuidado, na fundação do Dispensário a que deu o nome de seu irmão, que muito amava, o Padre Silvestre Pereira Coelho. A sua política visava o progresso de sua terra. As suas campanhas tinham este objetivo – o engrandecimento do Pará.
Possuía arguta sensibilidade política. Foi vereador à Câmara Municipal, sempre com este alto espírito público, nada pessoal, e membro de Diretórios políticos. Tomou parte ativa na campanha em favor da candidatura Marechal Hermes, com cuja vitória trouxe, com Torquato Alves de Almeida e outros, a estrada de ferro a esta cidade. Orador oficial na recepção de vultos políticos que nos visitavam. Não havia empreendimento ou realização séria em Pará de Minas que não contasse com o seu apoio e o prestígio do seu nome. Não é exagero afirmar que sem o seu beneplácito, nenhuma iniciativa aqui florescia. É o homem presente em tudo.
Sob o ponto de vista do vigário, realizou obra notável e duradoura, participando da remodelação, com Padre Vital, da atual Matriz, e por ele reformada tempos depois com a ainda bela pintura que é aqui apreciada [em 1968], de célebre pintor [alemão], o mesmo que fez, então, igual trabalho na Igreja de São José, em Belo Horizonte. As Associações das Filhas de Maria, Apostolado da Oração, Apostolado do Coração de Maria, as Damas de Caridade, Congregação Mariana, Conferências Vicentinas, com Gustavo Xavier Capanema na Presidência do Conselho Particular, são obras de Padre Zeca que atestam a grandeza do seu trabalho apostólico. Em 1914, cria a Guarda de Honra ao SS. Sacramento, em noite solene e com a Matriz repleta. Os meses de maio e de junho, quando se cultuava Maria Santíssima e São José, eram festejados pomposamente pelo Padre Zeca. As noites do chamado Mês de Maria trazia a igreja toda lotada, parecia até que todas as casas da cidade se fechavam e a população inteira se transportava para a Matriz. Quantas senhoras paraenses comovidas assistem hoje netas e bisnetas coroando a imagem de Nossa Senhora, repetindo aquelas cenas de que eram protagonistas! O altar-mor, adornado de flores, ia se enfeitando com as coroas que cada noite aumentavam e feitas pela dona Maria do Quintiliano. E os anjinhos que desciam do teto da Matriz como a trazerem do Céu a coroa com que as meninas iam colocar sobre a cabeça de Nossa Senhora. Após a bênção do SS. Sacramento, também recebia o Padre Zeca a homenagem do numeroso séquito de virgens e de anjos com as pétalas de rosas que lhe eram reservadas e lançadas sobre ele. Neste momento, no altar se misturavam os perfumes de incenso e o das rosas. Cá embaixo, seguia-se a distribuição dos cartuchos entre as meninas, os coroinhas, para o Osório [sacristão], sendo o maior e o mais belo cartucho destinado ao Padre Zeca… Depois, na sacristia, se realizava também outra festa: em torno do Padre Zeca se reuniam dezenas de meninos, entre os quais eram sorteados aqueles que na noite seguinte deviam segurar as quatro tochas, a naveta e o turíbulo. E as procissões, com pálio e banda de música do Emídio de Melo e depois do Sô Pedro, com tochas, navetas e turíbulo brilhando a custa do caol, limpeza que era feita pelos meninos que compareciam de batina vermelha, pois em dias comuns eles vestiam a opa da cor do paramento do dia. E as procissões de S. Luiz Gonzaga, só para as crianças? Assim o Padre Zeca enfeixava nas mãos os seus paroquianos de todas as idades e condições sociais. O próprio Carnaval se iniciava na sala de visita de sua residência, onde recebia alegre os foliões daquela época e por eles era “molhado” com limões cheios de água de Colônia e também com os lança-perfumes cujo uso já começava então. E aquele quadro figurando a subida de Cristo para o céu, no Domingo da Ascensão, em plena missa do dia, movimentando-se na hora da elevação, lentamente e sumindo-se no teto da igreja a ponto de muitos de nós correrem para fora do templo para ver Jesus subir para o céu. Iniciou Padre Zeca a entronização do quadro do Coração de Jesus nas casas, posteriormente acrescida do quadro do Coração de Maria. Era festa em cada família. Depois da cerimônia religiosa, era servido um café acompanhado de biscoitos, bolos e doces. E nós que acompanhávamos o Padre Zeca nestas casas, nos fartávamos a valer.
Meus Senhores, todos estes episódios possuíam um sentido pedagógico de catequese e expressavam a habilidade do Padre Zeca. Tão identificado estava ele com o seu povo e este com ele, que D. Cabral em suas primeiras visitas pastorais não encontrou aqui ambiente para introduzir as modificações ou reformas que fez em outras paróquias. Dizia-se naquela época que a Igreja Católica, Apostólica e Romana em Pará de Minas era Igreja Católica Apostólica e Padre Zeca! Sem dúvida que havia nestas palavras grande exagero, mas traduziam elas a união que havia entre o Padre Zeca e o povo, união que se nota quando ele, comprando um automóvel (veículo raro naquela época) colocava o automóvel cada dia à disposição de uma família para passeio, depois de abastecer o carro, ele próprio!
Meus Senhores, o mérito de Padre José Pereira Coelho não estava somente em suas excelsas qualidades. Foi cidadão que colocou estas qualidades a serviço do povo. O maior mérito, entretanto, foi o de não se conformar com a pequenez do meio em que vivia, com os parcos recursos da terra. Foi um inconformado. Procurou elevar o nível cultural, social e econômico de Pará de Minas, incentivando as iniciativas criadoras, dando a elas o seu apoio, ora colocando-se à frente dos empreendimentos, sem procurar vantagens pessoais. O seu inconformismo não possuía o sentido revolucionário de hoje e que se manifesta em agitações estéreis, em movimentos inconsistentes, inconsequentes e inoperantes de ruas, nas depredações, na violência, na iconoclastia. Padre José Pereira Coelho utilizava os seus predicados e a sua posição e prestígio, para realizar, em trabalho dinâmico e fecundo, o seu ideal conduzindo a bom termo todas as forças a seu alcance e desta forma, com a cooperação de paraenses da mesma estirpe, foi transformando a fisionomia de Pará de Minas, construindo os alicerces para que a sua e nossa terra fosse a grande urbe de que hoje nos orgulhamos.
Resta-nos agora mirar em seu exemplo, prosseguindo neste trabalho eficiente e admirável em favor do povo, construindo a bela cidade do futuro. Esta, meus senhores, é a personalidade sem par em rápidas pinceladas, do ilustre paraense e virtuoso sacerdote, cujo centenário de nascimento comemoramos hoje e que Pará de Minas perdeu nas últimas horas da fria e triste noite de 5 de julho de 1940. Meus senhores, não devemos esquecer, entretanto, que Padre Zeca foi tudo isto e muito mais, porém o mais importante de tudo foi sua obra como padre, como servidor de seu povo, como pastor de almas no cultivo da messe do Senhor.
Homenagens ao Padre José Pereira Coelho
a) Da Municipalidade, em 1918, dando o seu nome à antiga Praça da Matriz e à Escola Municipal “Padre Pereira” em Caetano Preto, povoado de Pará de Minas, em 1949.
b) Do Hospital, dando o seu nome a uma enfermaria, proclamando-o Irmão Benemérito, com o seu retrato colocado na galeria dos benfeitores.
c) Dos seus paroquianos, ao ensejo de seu jubileu de prata paroquial, a 1.º de novembro de 1931, com pomposas manifestações de apreço.
d) Da Cia. Melhoramentos Pará de Minas, com a colocação de seu retrato na galeria dos Diretores, empresa da qual foi Diretor-Presidente até o seu falecimento.
e) Da Cia. Industrial Paraense, com a colocação de seu retrato na galeria dos Diretores, empresa da qual foi também Diretor-Presidente até o seu falecimento.
f) Em 1º de maio de 1.951 foi inaugurado o Asilo Padre José Pereira Coelho, construído pelo Vigário Padre José Viegas com a colaboração da comunidade, destinado a abrigar meninas órfãs e abandonadas. A denominação foi uma homenagem ao falecido Vigário da Paróquia Nossa Senhora da Piedade. A edificação localizada na Rua Ricardo Marinho, 47, Bairro São Geraldo, foi tombada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Histórico de Pará de Minas em 13.04.1.998, pelo Decreto Nº 2.768 e atualmente abriga a Fapam – Faculdade de Pará de Minas.
Fonte: Arquivos Muspam.
Postado em 22.03.2018.
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